quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A pele que habito, filme de Almodóvar

Vi pela segunda vez o mais recente filme de Almodóvar: "A pele que habito". A partir do filme pude me perguntar sobre o que é pele, nossa pele? Pele é o que somos. Por ela transpiramos e realizamos todas as nossas trocas com o chamado mundo exterior. Nossa pele, toda pele, é, por definição, permeável ao mundo. Mas pode acontecer também de a pele virar carapaça. A carapaça nos enclausura em nós mesmos, nos retira do contato imediato com as coisas. No filme, aparece a carapaça da ciência. O transplante de pele, a pele mais resistente, a pele sem cheiro torna-se o ideal para um homem sem espírito. Tudo se passa como se fosse extraordinário tornar-mo-nos impermeáveis. Um homem impermeável pode decidir livremente todos os seus passos, pode, finalmente, fazer o que bem entende, sem se deixar influenciar por nada que o impacte "de fora". A ciência quer estar segura de sua imparcialidade. É assim que ela pode dominar e manipular objetos, mesmo que tais objetos sejam homens. Acontece que um projeto de dominação como este revela, à sua revelia, que seu maior medo é, justamente, o de ser dominado. É por medo de ser dominado que o homem de ciência se lança a dominar. Pela pele nos chegam infecções, bactérias, doenças de todo tipo, mas também nos chegam todas as nossas grandes vulnerabilidades. Ao buscarmos a imunidade contra as primeiras escondemos de nós mesmos que buscamos, na verdade, estar livres das segundas, na utopia delirante de nos tornarmos invulneráveis. O filme de Almodovar ridiculariza, de ponta a ponta, esse delírio de invulnerabilidade de uma ciência sem espírito.

2 comentários:

  1. Olá Francisco,
    Você me deixou curioso, vou procurar ver o filme de Almodovar.
    abs
    José Luis

    ResponderExcluir
  2. Oiiiiiiiiiiii!

    Esse filme foi realmente surpreendente, e vi graças a vc, seu comentário foi dentro do contexto uma análise clara de como as pessoas podem camuflar-se, conforme disse na palavra carapaça, pois a pele esconde não só artérias e músculos, mais também reações adversas de nosso corpo e mente.

    Grande abraço,

    Rosana Ceia

    ResponderExcluir