segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Filosofia contemporânea

O simples título "filosofia contemporânea" já nos dá o que pensar. Tratar-se-ia da filosofia que, de fato, está ajustada ao tempo presente. Todas as demais filosofias seriam apenas apropriadas à Época passada correspondente, de sorte que todas já estariam hoje definitivamente ultrapassadas. Isso só seria verdadeiro se cada Época histórica e cada pensamento fossem uma realidade fechada sobre si mesma sem relação com outras Épocas e pensamentos. Todavia, não é por ter sido pensado um dia, em consonância com demandas e problemas efetivamente presentes, que um pensamento pode ser considerado "datado". O que faz um pensamento ser "datado" é sempre o fato de ele não ter sido suficientemente radical, e radicalidade não é nada que pertença a uma Época específica em detrimento de outras. Eis porque um pensamento pode ser "contemporâneo" e já ser inteiramente "datado". Por outro lado, como poderíamos pensar radicalmente sem que nada nos levasse a tanto? Um pensamento é radical apenas por revelar-se capaz de descer às raízes daquilo que hoje é. Nesse sentido, toda filosofia ou é contemporânea ou simplesmente não é filosofia nenhuma, supondo que haja uma identidade entre filosofia e pensamento radical ou não "datado". Mas para poder descer às raízes, um pensamento deve primeiro corresponder ao apelo que lhe chega de sua própria situação, que é sempre a situação de um ser essencialmente finito, isto é, histórico. Sem se deixar requisitar por esse apelo, que lhe chega de sua própria situação histórica, nenhum pensamento poderia cumprir seu destino de radicalidade. De onde nos chega hoje esse apelo? Sem dúvida, esse apelo nos chega da ciência entendida de modo amplo. Correspondendo ao apelo de pensamento que nos  chega da própria ciência, nos colocamos, pela primeira vez, numa posição de liberdade em relação a ela, e isso significa que já não precisamos nem louvá-la e nem tampouco condená-la. Para compreender um pouco o que essa posição de liberdade diante da ciência pode nos proporcionar, cito as palavras ricas de radicalidade pensante de Emmanuel Carneiro Leão:  "Na era atômica, em que a técnica e a ciência desenvolvem um vigor planetário, a missão da filosofia não é corrigir ou substituir-se à ciência. É apenas ser a catársis de uma autoconsciência. Na reflexão sobre as condições de possibilidade da própria ciência ela recorda que todo conceito humano é sempre uma configuração histórica da Verdade do Ser, em cujo dinamismo se articulam as manifestações existenciais das várias épocas da humanidade. Na terra dos homens não há previdência, nem providência escatológica. O homem nunca é o autofalante do absoluto. De antemão não sabe aonde vai chegar, nem mesmo se vai chegar. É que  não nos podemos despir de nossa finitude, como de um manto vergonhoso, para revestirmo-nos da clareza meridiana de um saber sem sombras. O homem não é um Deus mascarado que nas vicissitudes históricas da existência fosse desmascarando sua divindade. A filosofia permanecerá sempre a reflexão finita do mais finito dos entes, por ser o único cônscio de sua finitude. Assim, os filósofos serão sempre os aventureiros que se afastam da terra firme dos entes e se lançam nas peripécias da história em busca da verdade do homem. Os argonautas do Ser." (Cf. Aprendendo a Pensar I. Rio de Janeiro: Daimon Editora, 2008, p. 32) 

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